Cerimônia a Tat’etu Kavungu celebra 100 anos do Tumba Junsara em São Paulo

Dr Manuel David Mendes, Deputado da Assembléia Nacional de Angola,
Sra Elza, Kota Sualankala, do Terreiro do Bate Folha,
e Dr Salvador Freire dos Santos, presidente daONG Mãos Livres de Angola

Por volta das 22h00 do sábado, 18 de maio, em Itapecerica da Serra, na grande São Paulo, quando o trio de Bândú (Tambores em kikongo), começam a ressoar anunciando a chegada de soberanos dos saberes e fazeres ancestrais. Taáta Kwa Nkisi Katuvanjesi, anfitrião do evento e toda sua Kiandu kia Kintinu (Corte), receberam personalidades do mundo tradicional e espiritual africano e afro brasileiro no ILABANTU para cerimônia de abertura do calendário festivo do Nzo Tumbansi Twa Nzambi Ngana Kavungu, divindade Bakongo que abre o período de festas do terreiro.

“A celebração a Tat`etu Ngana Kavungu tem um sentido singular, simboliza reunião da família, de amigos e da comunidade, Taáta Kwa Nkisi Katuvanjesi (Walmir Damasceno) conseguiu a proeza de juntar líderes de terreiros de vários lugares do Brasil para celebrar Tat`etu Ngana Kavungu. Compareceram representantes de Casas antigas de São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e de outras partes do país, um fato inédito.

Este ano, o Nzo Tumbansi incluiu uma homenagem especial, os 100 anos do Terreiro Tumba Junsara, de Salvador/Bahia, uma das principais raízes de candomblé kongo Angola, fundado no recôncavo baiano por Manuel Ciriáco Nascimento de Jesus, Tata Nlundiamungongo, da família de Maria Genoveva do Bonfim (Maria Neném), considerada a grande mãe do candomblé angola.
Nas homenagens no Nzo Tumbansi em Itapecerica da Serra, destaque para a presença da figura principal do Tumba Junsara, a matriarca Nengwa Kwa Nkisi Mesoeji, carismática Mãe Iraildes Cunha, de Ndembwa/Kitembu ou Tempo, que pela primeira vez pisou em terras paulistanas, acompanhada por Taáta Zingê Lumbondu(Xuxuca), presidente da ABENTUMBA (Associação Beneficente de Manutenção e Defesa do Terreiro Tumba Junsara), comitiva integrada por vários dirigentes tradicionais de terreiros da raiz Tumba Junsara em São Paulo e Rio de Janeiro, a exemplo de Taáta Mavile, Mam`etu Ndereci(São Paulo) e Taáta Kwa Nkisi Luazemy(Roberto Braga), do Terreiro Lumy Jacarê Junsara, Nova Iguaçu, baixada fluminense; Tata Efamin Ia Lemba, Kota Kavilemin, e outros. De Belo Horizonte/MG, Nengwa Yakunan, Janaina de Samba Kalunga, Tata Oni e demais membros da Nzo Lunda Kioko, hoje integrada a raíz Tumbansi, e de Ilhéus, sul da Bahia, Taáta Nkisi Unyanganga, Eduardo Bittar.

Ao ressaltar os 100 anos do Tumba Junsara, Taáta Katuvanjesi visivelmente emocionado, lembrou que o Nzo Tumbansi tem vivido momentos históricos reescrevendo parte da história das identidades culturais bantu, e homenagear o Tumba Junsara, é sem dúvida rememorar as lutas de expoentes como Taáta Ciriáco e tantos outros. Foi lembrado o legado da saudosa Makota Valdina Pinto, que teve papel importante na reafirmação das africanidades bantu no Brasil.

O espaço do Nzo Tumbansi foi pequeno para acomodar centenas de povos e comunidades tradicionais de matriz africanas e de terreiros, além de representantes de órgãos institucionais do Brasil e do Exterior, que fez com que o evento ganhasse caráter internacional. Babá Mário Alves da Silva Filho, tenente-coronel e comandante da Rota, que mais uma vez questão de prestigiar a celebração. Esteve presente a Defensora Pública do Estado de São Paulo, Isadora Brandão Araújo da Silva, que testemunhou a assinatura do Acordo de Cooperação entre ILABANTU e ONG Mãos Livres, representada pelo seu presidente, o advogado angolano Salvador Freire dos Santos. Acordo assinado entre o ILABANTU e a instituição africana de defesa dos direitos humanos visa estabelecer mecanismos na divulgação das culturas afro-brasileiras e bantu, nos dois países (Brasil e Angola), com vista a sua promoção, defesa e inserção à cidadania.

Esteve presente Amy Niang, nascida no Senegal, professora do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Witwatersrand, Joanesburgo (África do Sul), onde também coordena o Centro de Relações Internacionais Africanas. A Universidade de Witwatersrand é uma das mais conceituadas do continente africano, contando na composição do seu corpo discente com o filósofo Achille Mbembe. Atualmente Amy está como professora visitante no Instituto de Relações Internacionais da USP.

Coube a Kota Sualankala, professora e historiadora Ana Amélia dos Santos Cardoso, do centenário e tradicional Terreiro do Bate Folha conduzir ao centro do barracão o deputado da Assembléia Nacional de Angola, Manuel David Mendes, homenageado como Grande Benemérito da Cultura Tradicional Bantu Brasileira, título conferido pelo ILABANTU.

Ao homenagear o fundador da Associação Mãos Livres, Taáta Kwa Nkisi Katuvanjesi destacou a luta diária deste pela dignidade do homem negro, explicando que o ILABANTU tem acompanhado os esforços pugnados pelo advogado penalista angolano no respeito aos direitos humanos. O título ora concedido é reconhecimento da sua luta como “Defensor dos Povos Negros e das Culturas Negras”, cujo ato foi antecedido de um Seminário Internacional sobre “O Racismo e o Desconhecimento sobre as Culturas e Espiritualidades dos Africanos”, ocorrido dia 15 no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo apoiado pelo mandato do vereador professor Toninho Vespoli, que também prestou significativa homenagem ao Parlamentar angolano.

Um dos expositores do evento, o cantor e compositor baiano Tiganá Santana, apresentou parte de sua tese de doutorado dissertada recentemente na USP “A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil”, segundo Bunseki Fu-Kiau. Durante o Seminário na Câmara Municipal de São Paulo, o renomado MC, produtor musical e empresário, Rincon Sapiência, que se reafirma como Manikongo, foi laureado com o título de Grande Benemérito da Cultura Tradicional Bantu Brasileira, por sua luta na valorização das culturas bantu e em defesa das tradições africanas.

O apogeu da festa

A tradicional festa de Tat`etu Ngana Kavungu que acontece há 30 anos no Nzo Tumbansi, dirigido por Taáta Katuvanjesi, era aguardada com grande expectativa pelos membros e integrantes do Terreiro. Encerrada as falas e mensagens pelas autoridades presentes, deu-se início aos festejos, Taáta Zingê Lumbondu, com toda maestria, entoou cânticos e reverencias aos Bankisi, surge Tat`etu Ngana Kavungu, incorporado por Taáta Kwa Nkisi Katuvanjesi que logo se recolhe, retornando em seguida devidamente paramentado, conduzido por Nengwa Kwa Nkisi Mesoeji, Mãe Iraildes de Tempo, matriarca do Tumba Junsara, acompanhado de Uambulu N`Sema(Bamburucema), da Kota Sinderewí e Nzumbá incorporada por Kota Katulondiamaza, a Mãe Nega. Neste momento o público aplaudiu com fervor, segundo Kota Sualankala, Ana Amélia, de Nzazi, do Terreiro do Bate Folha, era visível a fé inabalável das pessoas em relação a Tat`etu Ngana Kavungu, era emocionante ver a expressão de amor, gratidão que os filhos e convidados demonstravam pelo ancestral. Podia-se sentir um ambiente de paz e harmonia espiritual. Ao final da cerimônia, Tat`etu Ngana Kavungu, Mam`etu Bamburucema e Mam`etu Nzumbá nos deixaram elevados e ao som de aplausos.

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