Seminário Internacional em terreiro de candomblé discutiu As Culturas Africanas frente ao colonialismo contemporâneo

Nos dias 8, 9 e 10 deste mês, aconteceu nas dependências do Inzo Tumbansi – ILABANTU (Instituto Latino Americano de Tradições Bantu) em Itapecerica da Serra, região metropolitana sul da Grande São Paulo, o Seminário Internacional – As Culturas de Matriz Africana Frente ao Colonialismo Contemporâneo, evento que proporcionou troca de saberes e pensarem das Comunidades Tradicionais de Terreiros e um diálogo em que foi apresentado características coloniais racistas que ainda são presentes no cotidiano dessas comunidades. Como se posicionar ou se repensar diante disso foi a questão norteadora.

Na sexta, dia 8, por volta das 19h00 a abertura solene foi comanda pelo anfitrião, Taáta Katuvanjesi – Walmir Damasceno que é coordenador geral do ILABANTU, dirigente tradicional do Terreiro de Candomblé Inzo Tumbansi e representante latino americano do CICIBA (Centro Internacional das Civilizações Bantu), organismo intergovernamental sediado em Libreville, Gabão. Representações do mundo político, intelectual do Brasil e Exterior e lideranças de comunidades tradicionais de matriz africana marcaram presença no Seminário, a exemplo de Rosângela Santos – Vereadora Líder do PT de Embu das Artes, que sinalizou seu apoio. A primeira mesa foi composta por Kota Sualankala, de Nzazi, professora e historiadora Ana Amélia Santos Cardoso, representando o centenário Terreiro do Bate Folha, Salvador, Bahia; Mam’etu Oya Sivanju Anna Lúcia – Kilombo Ua Dilenga Sivanju, zona norte de São Paulo; Mam’etu Diamuganga – Katia Luciana de Matamba , do Abassá Oxum Oxóssi (São Paulo), herdeira da saudosa Mãe Caçulinha, antiga sacerdotisa do candomblé de angola em São Paulo. São mulheres que detém grande sabedoria e compartilharam com o público os desafios que enfrentaram ao iniciar um trabalho de descolonização das mentes em seus terreiros. Além disso, salientaram que é necessário se posicionar de forma consciente diante das facilidades advindas do mundo tecnológico em que tudo precisa ser lançado nas redes, observaram que é importante se conscientizar que compartilhar algo que aparentemente seja inofensivo, talvez colabore para um pensar e um estereotipar as religiões de matriz africana.

Sábado, dia 9, o evento continuou com uma mesa composta pelo renomado babalorixá Rodney William, de Oxóssi, Antropólogo, e a Filósofa Djamila Ribeiro que abordaram “Movimentos Negros e os Direitos Humanos e Feminismo Negro e a Descolonização”. Tais temas serviram de base para a Conferência Magna feita pela convidada especial Mireille Fanon Mendes France, da Universidade Paris Descartes, ex-Perita da ONU, professora visitante da Universidade de Berkeley (EEUU). Ela fala sobre o racismo estrutural e estruturante e como o capitalismo influencia diretamente na manutenção desse racismo. Ela é filha de Frantz Fanon, um psiquiatra, filósofo francês da Martinica que foi um influente pensador do século XX sobre os temas da descolonização e a psicopatologia da colonização.

O dia seguiu com uma palestra do Diretor do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude, e Desportos da Província do Zaire, norte da República de Angola, o professor Biluka Nsakala Nsenga, falando sobre A história do Reino Kongo e a cidade espiritual e ancestral Mbanza Kongo, tal contribuição apresentou um reconhecimento entre os Bantu brasileiros e africanos. Posteriormente ocorreu a fala do professor doutor Richard Freeman, presidente da Fundação Joe Beasley, sediada em Atlanta, Estados Unidos, sobre o racismo nos EUA e de suas percepções do racismo estrutural no Brasil. A última mesa do dia foi composta por Deivison Nkosi falando de seu livro “Frantz Fanon – Um Revolucionário Particularmente Negro” e Inatoby Pedro Neto, Ilé Àse Pàlepà Màrìwò Sessu – SP, cientista social, produtor cultural, diretor da Àgo Lònà Associação Cultural e Consultor do PNUD/ONU de 2015 a 2018. Para finalizar, houve uma Roda de Capoeira, do Mestre Zelão e capoeiristas convidados.

Para o último dia, fora remanejado a fala do Egbomy Renato Kilombola Urbano, d`Ògún que apresentou sua pesquisa acadêmica sobre espaços negros da maior capital brasileira e latino-americana e a quarta maior do mundo, registros da cultura e religiosidade africana e salientou a importância de ter figuras acadêmicas falando da religiosidade de matriz africana, mas também ter adeptos à essa religiosidade falando sobre ela pelo viés acadêmico já que apresenta a perspectiva afrocentrada e não eurocêntrica. Seguiu-se com as contribuições africanas à humanidade: Mam`etu Diamuganga, a carismática sacerdotisa Katia Luciana Sampaio, atual dirigente do Abassá Oxum Oxóssi e Nochê Sandra de Xadantã, representante em São Paulo das culturas tradicionais africanas Fon Jeje Nagô e Tambor de Mina. Para finalizar, a mesa foi composta pela ex-consulesa da França e jornalista Alexandra Baldeh Loras que trouxe uma provocação pra imaginarmos como seria o mundo se as figuras centrais de poder fossem de pessoas negras e as pessoas brancas estivessem no lugar que o racismo colocou os negros e apresentou como o racismo está no cotidiano e muitas vezes não é notado.

A troca de saberes e pensares dos adeptos à religiosidade de matriz africana juntamente com falas acadêmicas é de extrema importância para se repensar e descolonizar. É preciso se conscientizar que é chegada a hora de as comunidades tradicionais de terreiro se pensarem pela perspectiva africana e não mais eurocêntrica como até hoje no Brasil se pode observar. O evento contou com o apoio do mandato popular do vereador Toninho Vespoli, Câmara Municipal de São Paulo, Fundação Frantz Fanon (França) e Fundação Joe Beasley(Atlanta, EEUU).

Texto e fotos: Carla Cruz Eternize

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