Taata Katuvanjesi denuncia perseguição aos povos de terreiros na celebração da Consciência Negra em São Paulo

São Paulo/SP – Na terça-feira (20/11), a cidade de São Paulo e outros 779 municípios brasileiros — de acordo com dados da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), comemorou o Dia da Consciência Negra. A data é uma homenagem a Zumbi dos Palmares, morto em 20 de novembro de 1695. Zumbi foi um dos líderes do Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, na divisa entre os estados de Alagoas e Pernambuco, no nordeste brasileiro.

Taata Katuvanjesi: à esquerda com a Ministra da Cultura Marta Suplicy

 

Na maior cidade do Brasil, São Paulo, as celebrações foram iniciadas logo cedo, no Parque do Ibirapuera com um evento inter-religioso, organizado pela Fundação Cultural Palmares, no qual participaram lideranças das diversas religiões e crenças, destaque para o candomblé de tradição congo-angola com a participação e mensagem de Taata Kwa Nkisi Katuvanjesi – Walmir Damasceno, que recorreu ao provérbio bakongo Nzaambi muntu kasadilanga – “A grandeza do homem deriva de Deus que o criou a sua imagem e conforme a sua semelhança”, assim taata Katuvanjesise apoiou para definir Zumbi, o herói banto-negro, sua luta no combate a opressão, discriminação, preconceito e intolerância.

Em meio a multidão, sendo cumprimentado pela Ministra Chefe da Secretaria de Políticas de Igualdade Racial da Presidência da República, a socióloga Luiza Bairros

 

Na sua fala, lamentou o Sacerdote da comunidade tradicional de terreiro de povos das atrizes afro bantu, o Nzo Tumbansi Tua Nzaambi Ngana Kavungu – Candomblé de tradição congo-angola, que fatos assustadores ainda acontecem nos dias atuais e diuturnamente contra os povos de terreiros, nas grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e em tantos outros lugares, onde o silêncio dos tambores é obrigado e forçado a dá lugar aos atos vilipendioso contra povos e comunidades tradicionais de terreiros.

Taata Katuvanjesi – Walmir Damasceno, como revela as fotos, aproveitou o momento e teve encontros com as ministras Marta Suplicy, da Cultura; Luiza Bairros, da Secretaria Especial de Politicas de Promoção da Igualdade Racial – Seppir; Eloi Ferreira de Araujo, presidente da Fundação Cultural Palmares; o ator Antonio Grassi, presidente da Fundação Nacional das Artes; cantora e atriz Paula Lima; cantor, compositor e vereador Netinho de Paula; e um grupo de artistas congolês que se apresentava no ato cantando musica do congo.

Após o evento inter-religioso, todos se dirigiram ao auditório do Museu Afro Brasil onde puderam assistir e ouvir anúncio de projetos do Governo Federal de incentivo à produção cultural de afrodescendentes e a inauguração de uma série de exposições como parte da celebração do Dia da Consciência Negra.

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, apresentou em São Paulo um pacote de editais para incentivar artistas negros nas áreas de audiovisual, circo, dança, música, teatro, literatura, artes visuais e pesquisa acadêmica, com recursos iniciais no valor de R$ 10 milhões.

“O objetivo é aumentar as oportunidades para a comunidade negra poder se inserir na produção cultural. O que nós queremos é que um maior número de brasileiros negros possa viver da sua arte. Isso ainda não acontece. Nós não temos nosso Spike Lee, mas vamos ter com certeza”, afirmou Marta em referência ao cineasta americano negro.

Discussão sobre a população negra no Brasil

Atualmente, a discussão sobre a população negra no Brasil ganha cada vez mais o olhar da sociedade como um todo, pois hoje, segundo o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros são a maioria da população brasileira.

Os dados são do último Censo Demográfico (2010): de uma população estimada em 191 milhões de habitantes, 15 milhões se classificaram como pretos (7,6%), e 82 milhões, como pardos (43,1%). Ou seja, a população declarada negra (pretos e pardos) é de 50,7% do total.

Se, por um lado, algumas conquistas – como a Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e a sanção da Lei de Cotas— aparecem como resposta à luta dos diversos movimentos ligados à causa negra, por outro lado, o Relatório Anual das Desigualdades Raciais 2009-2010 apresenta dados em que os negros e pardos estão mais vulneráveis em relação à segurança alimentar, possuem maior defasagem escolar e recebem menor número de aposentadorias e pensões da Previdência Social, para citar alguns dos itens que compõem o documento.

Até em relação ao acesso à Justiça, os negros aparecem em desvantagem em relação aos brancos, segundo o relatório. No documento, a maioria dos processos por crime de racismo julgados nos Tribunais Regionais de Trabalho (TRTs) é vencida pelo réu da ação, não pela vítima. Diante desse cenário, o Shopping News procurou algumas personalidades ligadas à questão do negro do Brasil para comentarem as conquistas e as lutas nesses quase 10 anos de implantação da Lei e para falarem sobre a importância e o impacto do Dia da Consciência Negra na sociedade brasileira.

Opinião

Luiza Bairros – Ministra da Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir)

“Desde a experiência pioneira com ações afirmativas da UERJ, em 2001, acumulamos uma rica e diversificada experiência na institucionalização de políticas de ação afirmativa, no acesso à universidade pública e privada, cujo exame crítico forneceria, ao se ouvirem diretamente seus protagonistas e principais estudiosos, uma avaliação isenta de preconceitos. Como já se disse, o preconceito é o obstáculo maior ao conhecimento.

O futuro, é preciso dizer, se vincula a esse passado imediato e sistematicamente ignorado pelos críticos das ações afirmativas. Assim, contrariamente às previsões de um futuro catastrófico, a última década mostrou que o critério racial não exclui outros, até mesmo ajuda a promovê-los. Na esteira da cota para negros, seguiram-se outros critérios e abriram-se oportunidades de acesso a vários grupos excluídos. Esta é a verdade dos fatos. Por último, importa considerar que se as ações afirmativas, como dizem seus opositores, não passam de uma “medida paliativa”, não deixa de ser significativa a reação prolongada e delirante de alguns setores para uma medida que, por essa visão, encobre e dissimula, mas não ataca o mal que se precisa combater.”.

Júlio César Silva Santos – Coordenador do Núcleo de Combate ao Racismo do Sindicato dos Bancários (NCRSB)

“A cultura bancária, baseada no acúmulo de capital, é excludente”. A contratação de negros é muito pequena e quando existe é em cargos em que não há visibilidade. No atendimento direto aos clientes o banco ainda usa a teoria de que a imagem do negro não é ‘vendável’, como se ele fosse invisível. Apenas 2,3% da categoria são pretos, e recebem em média 64,2% do rendimento dos homens brancos, segundo dados do Mapa da Diversidade, realizado pela FEBRABAN em 2008, e divulgado em 2009.

No dia 20 de novembro, o NCRSB traz a reflexão da luta histórica do povo negro, em busca da igualdade de oportunidades, em todos os aspectos inerentes e emancipação racial, tão sonhada, não somente no Brasil, mas entre toda a humanidade. “Nosso intuito é demonstrar que não houve pacotes de bondades aos negros, e a mobilização do NCRSB é essencial, para que ocorra a inclusão de negros na categoria bancária, com possibilidade de ausência de discriminação e com mobilidade profissional.”

Lideranças religiosas, o primeiro a esquerda Taata Katuvanjesi – Walmir Damasceno, do Nzo Tumbansi

 

Taata Katuvanjesi – Walmir Damasceno, levando sua mensagem ao público presente

 

Taata Katuvanjesi, Ìyà Railda d`Sangó, do Ile Axé Opo Afonja, de Brasilia, e outras lideranças, presentes ao evento

 

Ministras Marta Suplicy, da Cultura; Luiza Bairros, da Seppir, e direitores de fundação e autárquias do Governo Federal, no Museu Afro Brasil, no Ibirapuera, em São Paulo

 

Taata Katuvanjesi – Walmir Damasceno, e o ator Antonio Grassi, presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte)

 

Taata Kwa Nkisi Katuvanjesi e Ìyà Railda d`Sangó, do Ile Axé Opô Afonja, de Brasilia, presente ao evento em São Paulo

 

Mam`etu Kiangana, Regiane de Katende; Eloi Ferreira, presidente da Fundação Cultural Palmares, e o Lider do Nzo Tumbansi/Ilabantu, Taata Katuvanjesi

 

Koota Sinderewí; Nengwa Koromin, de Hortolândia, São Paulo;
Nengwa Kafunjê; Koota Kinvwama e Koota Katulondiamaza, ao centro o cantor e vereador da capital paulista, Netinho de Paula

 

Taata Kwa Nkisi Katuvanjesi e atriz e cantora Paula Lima

 

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