Depois da célebre Mãe Stella, Tata Katuvanjesi será o primeiro Taata Nkisi a ocupar uma cadeira na Academia de Letras

Depois da célebre Mãe Stella, Tata Katuvanjesi será o primeiro Taata Nkisi a ocupar uma cadeira na Academia de Letras

ACLASP –  Academia de Ciências, Letras e Artes de São Paulo dará posse nesta terça-feira, dia 20 de agosto, às 19h00, no Auditório Teotônio Vilela da Assembleia Legislativa aos seus novos membros, e entre os novos acadêmicos, um fato inédito,  depois da célebre e mais importante Ialorixá do Brasil, a saudosa Mãe Stella de Oxóssi, primeira sacerdotisa do culto afro no Brasil a ocupar uma cadeira na Academia de Letras da Bahia, fato histórico ocorrido em 12 de setembro de 2013. Em São Paulo, um Representante do Candomblé, o Taáta Nkisi Katuvanjesi (Walmir Damasceno), que é jornalista de profissão e bacharel em direito, dirigente do Terreiro do Nzo Tumbansi em Itapecerica da Serra, na grande São Paulo, será o novo imortal da Academia de Ciências e Letras paulista. 

Ele vai ocupar a cadeira número 8, criada para homenagear Solano Trindade, um poeta brasileiro, folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante. Filho do sapateiro Manuel Abílio Trindade, foi operário, comerciário e colaborou na imprensa, nascido a 24 de julho de 1908, em Recife, Pernambuco e falecido em 19 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

“Ele é um jornalista de puro sangue, radical defensor das origens e raízes africanas. Sua luta em defesa das tradições africanas e afro-brasileiras , consagrada no Brasil e no próprio continente africano, traz a baila a revitalização histórica das culturas bantu no aspecto cientifico, espiritual e ancestral, especialmente em relação a cultura bakongo, olhar incisivo na revalorização dos aportes culturais dos africanos e seus descendentes”, afirmou a diretora de Relações Públicas da ACLASP, Zaine Assaf, responsável pela indicação de Walmir Damasceno(Tata Kwa Nkisi Katuvanjesi) junto a Academia.

Nascido na Fazenda Liberdade, município de Barra do Rocha, Território Médio Rio das Contas, região cacaueira sul da Bahia, Walmir Damasceno começou sua carreira jornalística escrevendo como Correspondente em jornais combativos da ditadura militar, a exemplo de Em Tempo, Tribuna da Luta Operária, Pasquim; periódicos de Itabuna, Ilhéus, Ipiaú e Jequié, colaborou em destacados diários de Salvador, Jornal da Bahia; Tribuna da Bahia, A Tarde, Correio da Bahia, e Rádio Educadora de Ipiaú, atual Nova FM. Membro de instituições como Associação Brasileira de Imprensa com inscrição 1541, deferida pelo então presidente, o saudoso jornalista Barbosa Lima Sobrinho; Associação Fluminense de Jornalistas. Em São Paulo, para onde migrou em 1987, colaborou na Tribuna Afro Brasileira, e fundou os periódicos Correio Afro e Afro Brasil. 

Biografia

Tata Kwa Nkisi Katuvanjesi (Walmir Damasceno), dirigente tradicional-espiritual-ancestral de Candomblé de Matriz Kongo-Angola, nascido em 3 de março de 1963 na Fazenda Liberdade, zona rural do município de Barra do Rocha, região do Território Médio Rio das Contas, sul da Bahia.  Atualmente reside na Rua Angola, Parque Paraiso, Itapecerica da Serra, cidade da região metropolitana sul da Grande São Paulo, filho de João Damasceno dos Santos, trabalhador rural da cultura cacaueira e de Josina Santana, empregada doméstica, ambos empregados da fazenda da Família Muniz Ferreira. Sendo o terceiro filho da escala de onze, que compunha a Família Damasceno, investiu nos estudos, boa parte de seu tempo. Da Fazenda Liberdade, mudou-se aos 11 anos para a cidade de Ipiaú, Território Médio Rio das Contas, região cacaueira sul da Bahia, onde concluiu o ensino primário e o secundário. Atento às questões sociais e iniciando a militância política, foi eleito, presidente do Centro Cívico Borges de Barros do Colégio Estadual de Ipiaú, aos 15 anos de idade. Essa função o levou a tornar-se membro do Interact Clube de Ipiaú que atuava em projetos para promover compreensão acerca dos problemas da comunidade local e global. Para o sustento, Damasceno, trabalhou como engraxate, faxineiro, carregador de água potável (com lata d’água na cabeça) do Rio Água Branca de Ipiaú para abastecimento residencial, vendedor de temperos, verduras e entregador de jornais. Enfrentando os desafios do viver, se envolvia cada vez mais com as questões sociais e políticas. Por meio do Rotary Club da Cidade de Ipiaú, fundou Movimento Democrática Social (MDS) com o objetivo de promover ações sociais voltadas para o resgate de jovem com dificuldades sociais e drogadição. Mobilizar, organizar, comunicar, foi tornando-se central em sua atuação social, tanto que no final da década de 1970, do século passado, Walmir Damasceno, por meio do programa de rádio “Falando Francamente”, passou a fazer parte de apresentadores da então Radio Educadora de Ipiaú (AM 1.470). Sua forma de comunicar abriu espaço para ser repórter da Rádio e do Jornal da também cidade baiana de Jequié.  A vontade de cursar uma faculdade foi crescendo e se tornou tão forte que Damasceno resolveu cursar o supletivo, com o intuito de acelerar sua entrada no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, que concluiu em 1985. Sua passagem por Jornais, Revistas e Rádios em Jequié, Salvador, Ilhéus e Itabuna o rendeu o título de Cidadão Ipiauense e a Comenda Professor Altino Cerqueira oferecida pelo Legislativo Municipal de Ipiaú na década de 90. Nesta cidade, em 22 de setembro de 1985, funda seu Terreiro de Candomblé, o Nzo Tumbansi Twa Nzambi Ngana Kavungu (Casa Pedaço de Terra do Deus Senhor dos Mistérios), de variante Bantu-Kongo e, consequentemente o Instituto Latino Americano de Tradições Bantu (ILABANTU), associação civil pública sem fins lucrativos, tornando-a como entidade mantenedora e conservadora do Nzo Tumbansi.

Em 1987, migra para a cidade de São Paulo juntamente com sua esposa Iara Souza Damasceno e o primeiro filho do casal. Na cidade de São Paulo, estabeleceu moradia inicialmente no Bairro de Vila Brasilândia, zona norte da capital Paulista, bairro de população majoritariamente negra, onde militou em movimento de moradia popular, de matriz africana e ativista do movimento negro. Nesta mesma ocasião transfere o Nzo Tumbansi, terreiro de candomblé de Ipiaú (Bahia) para a cidade de São Paulo. Na luta diária pela sobrevivência encontrou ao lado de sua esposa, a força e o estimulo para ser pai de mais três filhos e uma filha, cursar mais duas faculdades, tornando-se também bacharel em Direito e licenciado em Letras. Hoje também é avó de duas netas e um neto. O curso de especialização em Educação para Relações Étnico-Raciais fortaleceu suas crenças e convicções na luta por Igualdade Racial no Brasil e luta por garantia de direito e respeito dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana. Desde então, tem se dedicado à organizar e presidir pesquisas, conferências, encontros, seminários e palestras, nacionais e internacionais, para promoção da igualdade racial, valorização da história e da cultura africana e afro-brasileira e tornou-se árduo defensor e impulsionador na revalorização dos aportes culturais dos africanos e seus descendentes na diáspora, lutando pela visibilidade cultural e identitárias desses povos e seu legado em São Paulo em todo continente latino americano e caribenho. As ações a seguir demonstram o quanto tem colaborado para a efetivação desses direitos. 

1.Coordenou e presidiu a I Conferência Internacional da Tradição e Cultura Afro, realizada dia 3,4 e 5 de outubro de 1994, do auditório Adoniran Barbosa – Centro Cultural São Paulo;

2.Idealizador, Coordenador e Presidente do I Encontro Internacional das Tradições Bantu no Brasil (Ecobanto), ano 2003, na Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo;

3.Coordenou e Presidiu o II Encontro Internacional das Tradições Bantu no Brasil (Ecobanto), dias 3,4 e 5 de setembro de 2004, no Parlamento Latino Americano-SP

4.Diretor de Relações Internacionais da COBANTU (Carapicuíba/SP) a convite do saudoso Tata Taua;

6.Ministrou curso Religiões Afro Brasileiras no VIII e IV Seminário Internacional Acolhendo as Línguas Africanas na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus I, com carga horária de 40 horas em cada certame, no ano de 2011 e 2012

7.Diretor-Presidente licenciado do Instituto Latino Americano de Tradições Afro Bantu (ILABANTU)

Sediado a Rodovia Armando Salles, 5205 – Recreio Campestre – Itapecerica da Serra/SP www.inzotumbansi.org;

8. Fundador e Presidente da Federação Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira (Fenatrab);

9. Foi delegado da então Federação Baiana do Culto Afro Brasileiro, nomeado pelo saudoso Tata Esmeraldo Emetério de Santana e designado Coordenador em São Paulo da atual Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro (Fenacab, Salvador, Bahia), pelo seu Presidente, Babá Ary d`Ajagunan;

10.Representante para América Latina do Centro Internacional das Civilizações Bantu (CICIBA), Libreville, Gabão) www.cicibabantu.org

11. Eleito e empossado primeiro presidente do Conselho Municipal do Negro (CONEGRO), de Itapecerica da Serra, criado por lei municipal em função da luta do movimento local organizado e do movimento social, no período de 2007 a 2009;

12.Coordenador em São Paulo da Associação Nacional Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu, Salvador, Bahia);

13. Autor da minuta do Projeto de Lei para criação da Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Itapecerica da Serra/SP;

14.Participou da I Oficina Nacional de Elaboração de Políticas Públicas para Comunidades Tradicionais de Povos de Terreiros das Matrizes Africanas, MinC/São Luíz/MA, de 27 a 30.11.2011;

15. Seminário Nacional Territórios de Matrizes Africanas, Brasília/Sepir,14 e15 de dezembro de 2011;

16. Oficina de Formação Sobre o Sistema de Convênios do Governo Federal – Siconv, 28 a 30 de janeiro de 2013, com carga horária de 20 horas, Seppir;

17.Consultor para o Programa São Paulo Contra o Racismo – SDC/SP, Fundação Cepam – Prefeito Faria Lima;

18. Ministrou curso de Línguas Kikongo, uma das línguas faladas por nativos de Angola, orientado pelo professor doutor Francisco Narciso Cobe, Mbanza Vamba, Província do Uige, Angola, com carga horária 40 horas, Ilabantu/SP;

19.Coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura Municipal de Itapecerica da Serra/SP, de 2013 a 2015;

20.Autor do Projeto de Mapeamento e Inventário dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana no Município de São Paulo, entregue a SMPIR em janeiro de 2013;

21.Coordenador Geral do Encontro Internacional das Tradições Bantu no Brasil (ECOBANTU), 23 de outubro de 2016, Galeria Olido/SP;

22. Coordenador Geral do I, II, III e IV Seminário Internacional de Comunidades Tradicionais Bantu e de Terreiros, sempre realizado no Nzo Tumbansi, em Itapecerica da Serra;

23. Coordenador Geral do IV ECOBANTU – Encontro Internacional das Tradições Bantu, realizado nos dias 4, 5 e 6 de maio de 2018, no Auditório Simón Bolívar – Memorial da América Latina, São Paulo;

24. É Cidadão Itapecericano, Título concedido pela Câmara Municipal de Itapecerica da Serra em 2018;

25. É Cidadão Paulistano, Titulo concedido pela Câmara Municipal de São Paulo em 2018.

26. Homenageado com Comenda Manoel Muniz de Oliveira pela Câmara Municipal de Barra do Rocha (Bahia) – 2018;

27. Membro da Comissão Participativa do 2ª Edição do Festival Internacional da Cultura Kongo “FestiKongo’2019”, realizado de 5 a 9 de julho de 2019, Mbanza Kongo, capital espiritual e ancestral do Reino do Kongo, província do Zaire, República de Angola;

28. Membro/Imortal da Academia de Ciências, Letras e Artes de São Paulo (ACLASP), ocupando a cadeira número 8 – Solano Trindade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *