Relação de ciência e religião foi tema de mesa em Congresso da UNIFESP

Relação de ciência e religião foi tema de mesa em Congresso da UNIFESP

“A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega”. A frase de Albert Einstein ilustrou bem o tema discutido na mesa Ciência e Religião, ocorrida dia 17 de julho de 2020, das 11h às 12h30, dentro do Congresso Acadêmico Unifesp 2020.
Em uma ação que reuniu representantes de quatro vertentes religiosas diferentes – Judaísmo, Catolicismo, Islamismo e Candomblé –, a mesa Ciência e Religião discutiu, entre outros aspectos, o significado da religião e a sua relação com a ciência, e se esses conceitos mudam em tempos de crise. Participaram do debate o rabino David Weitman, o padre Júlio Lancellotti, o sheikh Mohamad Al Bukai e Taata Nkisi Katuvanjesi (Walmir Damasceno). A mediação do debate ficou a cargo do pró-reitor adjunto de Graduação, Fernando Kinker.
Com esse diálogo inter-religioso foi abordada a questão da relação entre religiosidade e cientificidade, como também suas implicações nas dimensões que possibilitam o ser humano reconhecer os sentidos da vida e a convivência em sociedade.
Para Tata Katuvanjesi, foi um ineditismo a participação com direito a fala de Representante de terreiro de candomblé em um evento da magnitude como o Congresso Acadêmico 2020 organizado pela Universidade Federal de São Paulo(UNIFESP), uma das mais importantes universidades públicas brasileiras, principalmente neste momento de lutas empreendidas pelos movimentos sociais organizados no enfrentamento das mazelas, dores e sofrimento provocadas por esse regime fascista e estado opressor.

Confira fala de Tata Nkisi Katuvanjesi:

Ciência e Religião
Taata Nkisi Katuvanjesi – Walmir Damasceno
Congresso Acadêmico 2020
UNIFESP
Online – Dia 17/7/2020 – das 11 às 12:30 horas


Gostaria de cumprimentar todas e todos participantes deste Congresso Acadêmico 2020 empreendido pela Universidade Federal de São Paulo. Um cumprimento especial a reitora, professora doutora Soraya Soubhi Smaili, e em seu nome saudar todo corpo docente e discente da UNIFESP.
Cumprimentar os Irmãos das convicções filosóficas religiosas:
Rabino David Weltman, Sheikh Mohamad Al Bukai, e o Reverendíssimo Padre Júlio Lancelotti, incansável acolhedor, protetor espiritual, religioso e social da nossa imensa população de rua, desprezada criminosamente por este estado opressor e desumano….
1. Qual o significado da religião e a sua relação com a ciência?
O padrão civilizatório no ocidente a partir do iluminismo, criou um cisma entre religião e ciência de forma ilusória.
Todos os religiosos iniciados nos mistérios mais profundos de suas respectivas religiões sabem que não existe essa diferenciação e, hodiernamente, os avanços da física quântica tem aproximado e corroborado cada vez mais os axiomas científicos com verdades conhecidas pela religião universal. Pois, ao meu modo de entender, a diferença das formas de reverenciar o divino é somente contingencial, em decorrências circunstanciais de espaço e tempo.
A verdade é una e, a forma de se chegar a ela é variada. No candomblé, aspectos dessa integração entre ciência e religião são fundamentos de nossas celebrações. No ocidente, tal como falei, ocorre a dicotomia ilusória entre ciência cujo campo de atuação é o mundo fenomênico e a religião que se ocupa do transcendente e, é exatamente nesse ponto que se opera uma notável distinção entre os padrões civilizatórios fundados nas bases étnicas, pois no candomblé, fundado na matriz cultural africana, o mundo fenomênico não é separado e distinto de um campo divino; não há uma dualidade, esse mundo é a própria divindade manifesta e por meio dele e, portanto de forma cientifica, operamos as transformações no campos da atuação humana.
No candomblé há uma ciência de como se chegar em outros aspectos do divino por meio de suas manifestações visíveis em âmbito, mineral, vegetal e animal.
De forma que não existe uma religação com o divino conforme a etimologia da palavra religião, pois não há uma separação. A manifestação divina não está separada dos fenômenos no mundo, contudo, conforme dito, há uma ciência milenar que faz as correspondências das qualidades das coisas para cientificamente provocar resultados no mundo. Isso os ocidentais passaram a chamar de magia. Mas, para nós isso é só o reconhecimento cientifico dos arquétipos relacionados a todas as manifestações do mundo físico.
1. Em tempos de crise, como nesse por conta da quarentena, religião e ciência são divergentes ou convergentes?

A obtenção da cura, o aprimoramento ético-moral, a lucidez e sabedoria são resultantes das manifestações do divino. Não é somente ou devido aos momentos de crise que ocorre a convergência entre ciência e religião, tal convergência é ontológica.
Entendo que a cura perpassa pela aplicação do entendimento humano sobre possíveis combinações de elementos vegetais, minerais, animais capazes e restabelecer o organismo ao seu estado de equilíbrio. E isso, ao meu ver, somente é possível pela inspiração, a qual em linguagem poética, mas que para mim tem todo o sentido, nos vem pelo hálito dos ancestrais, pelo sopro divino ao nosso entendimento. E assim é nos demais campos da atuação humana. E são nesses momentos que nos deparamos com a realidade da morte, com o medo e a angustia, de forma que as religiões sejam elas quais forem são capazes de nos manter confiantes, resilientes e animados pela compaixão por perceber de forma indubitável o mesmo destino para todos nós.
2. O que espera dessa mesa com diferentes religiões e pensamentos, num congresso acadêmico?
O ambiente acadêmico é um espaço de discussão e, em sentido lato, um espaço de busca para da verdade. Por essa perspectiva, a pluralidade presente nas diferentes narrativas referentes ao divino é profícua tanto para a produção acadêmica em um sentido estrito, como para aproximar essas diferentes visões para perceberem o que há de comum entre elas e no que podem convergir para o aprimoramento da humanidade em um sentido ético, tecnológico e moral, pois são aspectos convergentes que erroneamente aprendemos a separar.




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