Em cerimônia realizada dia 10 de maio deste ano ficou marcada na história mais sublime dos povos e comunidades tradicionais de matrizes africanas de terreiros da região sudeste brasileira, a concessão do título de Doutor Honoris Causa a Tata Kwa Nkisi Katuvanjesi, um reconhecimento de uma instituição federal de ensino superior no estado de São Paulo, que tem uma cidade global que une distintos hábitos, costumes e culturas, com uma população formada por 12,4 milhões de habitantes – ou 21,3 milhões na região metropolitana –, de 70 diferentes nacionalidades.
Absolutamente diversa, São Paulo com sua deselegância discreta, acomoda as mais variadas tradições religiosas africanas e afro-brasileiras. Como não podia deixar de ser, essa diversidade também se reflete em todos os tipos de pensamentos e matrizes africanas que para cá vieram.
Assim, em 1987, desembarcou na capital paulista o baiano da Fazenda Liberdade, zona rural do município de Barra do Rocha, Tata kwa Nkisi Katuvanjesi(Walmir Damasceno), em sua movimentação para estabelecer nessa Selva-de-Pedra, e que agora torna-se Doutor Honoris causa pela Universidade Federal de São Paulo(UNIFESP), em cerimônia que contou com presenças de lideranças de povos e comunidades tradicionais de matrizes africanas de terreiros e de representantes da academia intelectual, políticos, ativistas do movimento negro, além de membros do governo federal, a exemplo do representante da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Fabio Manzini(representando o Ministro Alexandre Padilha), Caio Ferreira, representando o Ministro do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; Luana Alves, vereadora da Câmara Municipal de São Paulo; professora Sylvia Cibele Aparecida da Silva, coordenadora administrativa na Câmara Municipal de São Paulo.
Considerado um fato Inédito na universidade, a concessão da honraria no grau de Doutor Honoris Causa teve processo iniciado em 2021, após iniciativa do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (Neab/Proex-Unifesp), coordenado pela professora Maria do Espírito Santo Slapnik e contou com centenas de assinaturas de apoio de lideranças de Terreiros, do movimento negro, do Centro de Estudos da Mulher e de Gênero, da Universidade do Texas, liderado pela Kota Kamba Dyamaza, professora Christen Smith; ativistas da diversidade cultural e dos direitos humanos.
A mesa de honra da sessão solene foi composta pela reitora Raiane Assumpção, que preside o Conselho Universitário (Consu/Unifesp), o homenageado, Tata Kwa Nkisi Katuvanjesi, a líder religiosa e herdeira direta da linhagem Tumbenci(primeira casa da matriz Kongo/Angola do Brasil), o diretor do Escritório de Representação da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Fábio Manzini Camargo(representando o ministro Alexandre Padilha); o diretor geral do Centro Internacional de Civilizações Bantu(CICIBA), Antonie Manda Tchebwa, o primeiro conselheiro da Embaixada da República Democrática do Congo em Brasília, diplomata Joachim Doste Muhirwa Rusangwa.
Ao abrir os discursos, o professor Odair Aguiar Junior, que preside a comissão de Títulos Honoríficos, celebrou a ocasião, que marcou o encerramento de todo o rito realizado na universidade, no processo de proposição do título honorífico para Tata Kwa Nkisi Katuvanjesi, o primeiro da Unifesp c concedido a líder de religião de matriz centro africana. “Este é um momento histórico e de muita celebração para nós, não só como instituição, mas também como país, ao outorgar como doutor honoris causa essa grande liderança de terreiro que é Tata Katuvanjesi”.