Pais, mães, filhos e filhas de santo, assim como simpatizantes das diversas tradições espirituais e ancestrais de matriz africana, reuniram-se em grande festa dia 1 de fevereiro(sábado) no Inzo Tumbansi, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, para celebrar os Bankisi — divindades do candomblé de feição bantu, conhecidas no Brasil como os Congo Angola.
O evento, realizado sob uma noite chuvosa, marcou a abertura do calendário de festas tradicionais e comemorou os 21 anos de iniciação e reafricanização de Mam’etu Yenzanvula (Mãe Selma Silva), de Uambulu N’Sena (Bamburucema), além de diversas obrigações e confirmações de iniciados e iniciadas no terreiro.
A celebração também foi palco para homenagear outros membros da comunidade tradicional de terreiro, incluindo Kota Kimwangale, a advogada Haydée Paixão, e Makota Maza Dya Mpungu, professora Daniela Oliveira, ambas com sete anos de iniciação e reafricanização.
Também foram destacadas as obrigações de Muzenza Matambeleoji dya Nzambi, gestora de projetos e percussionista Nunah Oliveira; celebração do primeiro ano de iniciação do Tata Ndaji dya Nzambi, o Ouvidor Geral da Defensoria Pública da União, o jurista Gleidson Renato Martins Dias, de Nzazi; iniciação e confirmação do Tata Kisaba, cineasta João Victor de Oliveira; Makota Hosana Meira, de Hongolo; obrigações da Makota Josemere Almeida, de Kayala; e Muzenza Rafaela Almeida, de Kavungu.
A programação incluiu, ainda, a iniciação e reafricanização de Muzenza Regis Paulo Bender, de Gongombila; Muzenza Luana Santos Porcino, de Kayango; a professora doutora Lorena Faria, de Ndandalunda, além da celebração do aniversário de iniciação de Tata Mwendexi, professor doutor Deivison Nkosi, e do Muzenza Nkongo dya Lanji, professor Lucas Scaravelli.
Durante a abertura do evento, Taata Nkisi Katuvanjesi fez uma saudação aos presentes e reforçou a necessidade de combater o racismo e a intolerância religiosa. Em seu discurso, denunciou os ataques sistemáticos contra povos e comunidades tradicionais de matriz africana e criticou a postura do Estado brasileiro, que, segundo ele, adota apenas medidas pontuais diante das violências enfrentadas pelos praticantes das religiões de matrizes africanas. Katuvanjesi ressaltou, ainda, o papel do ILABANTU (Instituto Latino Americano de Tradições Afro Bantu) na luta pela garantia de direitos e na preservação das tradições africanas enquanto valores civilizatórios.
O evento contou também com a presença da secretária de Cultura de Itapecerica da Serra, Soraia Leal, que visitou o terreiro, liderado por Katuvanjesi — nome africano-brasileiro de Walmir Damasceno. A visita teve como objetivo fortalecer o diálogo com entidades que preservam as culturas tradicionais de matriz africana e promover a reativação do Conselho de Desenvolvimento de Promoção da Igualdade Racial. Além disso, a iniciativa busca subsidiar a elaboração de um projeto de lei de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, um marco inédito na agenda política da nova gestão municipal.
Uma vez instituída, a proposta, que será encaminhada à Câmara Municipal pelo prefeito Ramon Corsini, representará um instrumento de defesa das lutas históricas da população negra, contribuindo para a revalorização e a preservação da memória coletiva dos povos tradicionais de matriz africana.
Fotos: Ronaldo Gomes Sousa, Secretaria Municipal de Cultura





