Nzo Tumbansi: a tradição do candomblé de Nação Congo-Angola

Nzo Tumbansi: a tradição do candomblé de Nação Congo-Angola

Nzo Tumbansi: a tradição do candomblé de Nação Congo-Angola

Por Tadeu Kaçula

Como praticante e profundo admirador do Candomblé de nação Angola, sinto-me compelido a compartilhar a importância dessa tradição ancestral, especialmente sob a liderança do respeitado Tata Nkisi Katuvanjesi, também conhecido como Dr. Walmir Damaceno, à frente do terreiro Nzo Tumbansi. Este terreiro é reconhecido como uma das casas de santo mais influentes do país, desempenhando um papel crucial na preservação e disseminação dos cultos aos Nkisis e Bankisis, patrimônios inestimáveis da cultura africana e afro-bantu brasileira.

Como filho de santo do Tata Katuvanjesi, minha Dijina é Tata Dimixi Dya N’Zambi e sou testemunha do trabalho incansável realizado no Nzo Tumbansi. Essa casa de santo não é apenas um local de culto, mas também um espaço de resistência, educação e fortalecimento da identidade negra no Brasil. Aqui, não apenas cultuamos nossos Nkisis, mas também resgatamos saberes tradicionais, reafirmamos nossa ancestralidade e lutamos contra o apagamento histórico das contribuições africanas para a formação do povo brasileiro.

O Candomblé de nação Angola, também referido como Candomblé Bantu ou Congo-Angola, é uma manifestação religiosa que se originou das tradições dos povos bantos trazidos ao Brasil durante o período colonial. Esses povos, oriundos de regiões que hoje correspondem a países como Angola, Congo e Moçambique, trouxeram consigo uma rica herança cultural e espiritual. No Candomblé Angola, as divindades são chamadas de Nkisis, seres divinos que representam forças da natureza e aspectos da vida humana. O culto aos Nkisis envolve rituais de louvação, oferendas e incorporação, promovendo o equilíbrio entre o mundo físico e espiritual. Diferentemente de outras nações do Candomblé, como Ketu e Jeje, no Angola os ritos enfatizam a relação entre os Nkisis e as forças naturais, buscando harmonia e fortalecimento da comunidade por meio da conexão com a ancestralidade.

Tata Nkisi Katuvanjesi é uma referência no Candomblé Angola no Brasil. Seu trabalho no Nzo Tumbansi não se limita apenas à prática religiosa, mas também à pesquisa, documentação e divulgação da cultura bantu-africana. Sob sua orientação, o terreiro se tornou um centro de referência para aqueles que desejam compreender a religião de matriz africana em sua forma mais autêntica e preservada.
Como filho de santo do Tata Katuvanjesi, aprendi a valorizar não apenas os ritos e fundamentos, mas também a responsabilidade que temos em manter viva essa tradição. A cada toque, a cada canto entoado, estamos reafirmando nossa identidade e garantindo que as gerações futuras tenham acesso a esse saber sagrado. O Nzo Tumbansi é um farol que ilumina aqueles que buscam conhecimento e pertencimento dentro da tradição bantu.

Os Nkisis são divindades que personificam elementos naturais e princípios éticos, sendo fundamentais na cosmologia bantu. Cada Nkisi possui características específicas e está associado a determinados aspectos da vida e da natureza. Pambu Njila, por exemplo, é o guardião dos caminhos e encruzilhadas, enquanto Katendê é o senhor das folhas e das curas medicinais. A relação entre os Nkisis e seus filhos de santo é baseada em respeito e aprendizado contínuo, fortalecendo a identidade espiritual e comunitária. Os Bankisis, por sua vez, são espíritos ancestrais elevados, que atuam como guias espirituais e protetores dos terreiros e de seus membros. O culto a esses espíritos é fundamental para a manutenção do equilíbrio espiritual e social dentro da comunidade religiosa. Eles são lembrados e reverenciados nos rituais, pois sua sabedoria e proteção garantem a continuidade da tradição.

Preservação como Patrimônio Cultural

A manutenção e valorização das práticas do Candomblé Angola são fundamentais para a preservação da identidade cultural afro-bantu no Brasil. Terreiros como o Nzo Tumbansi desempenham um papel vital na transmissão de conhecimentos ancestrais, garantindo que as futuras gerações tenham acesso a essa herança. Além disso, a visibilidade e o reconhecimento dessas tradições contribuem para o combate ao preconceito e à intolerância religiosa, promovendo o respeito à diversidade cultural. O Candomblé Angola, como expressão viva da resistência afro-brasileira, deve ser preservado e fortalecido, pois representa não apenas um culto religioso, mas também um legado histórico e uma forma de afirmar a identidade negra no Brasil.

A importância do Candomblé de nação Angola, sob a liderança de figuras como Tata Nkisi Katuvanjesi e casas como o Nzo Tumbansi, é inegável. Como Tata Dimixi Dya N’Zambi, sinto-me honrado em fazer parte dessa tradição e contribuir para sua continuidade. A preservação dos cultos aos Nkisis e Bankisis não apenas mantém viva uma tradição ancestral, mas também enriquece o mosaico cultural brasileiro, reforçando a conexão com as raízes africanas e celebrando a diversidade que compõe nossa identidade nacional.

Tadeu Kaçula é sociólogo, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo.