Homenagem a Nkosi reúne celebridades do candomblé congo-angola no Nzo Tumbansi

Evento marcou a saída de iniciados como a norte americana professora doutora Christen Chriss Smith, antropóloga da Universidade do Texas, EUA, e outras obrigações tradicionais. No dia 14 julho, o Nzo Tumbansi, um dos terreiro candomblé de tradição Congo-Angola mais tradicionais do País, reabriu suas portas para a celebração ao nkisi Nkosi. Por volta das 22h30, o público, cerca de 250 pessoas, lotou as dependências do Instituto Latino Americano de Tradições Afro Bantu (ILABANTU), entidade mantenedora e conservadora do Inzo Tumbansi, terreiro de candomblé de tradição congo-angola (Bantu), estabelecido a Estrada de Itapecerica, 5205, Recreio Campestre, Itapecerica da Serra, região metropolitana sul da Grande São Paulo.

Ao presidir e conduzir a abertura oficial da celebração, Taata Nganga-Nkisi, Katuvanjesi (Walmir Damasceno), retransmitiu a todos as benção e a saudação da Néngwa kwa Nkisi Lembamuxi, herdeira e sucessora de Maria Neném, sacerdotisa máxima do Terreiro Tumbenci, casa matriz, sediada em Salvador, Bahia, que por motivo de força maior não compareceu ao evento. Por sua vez, Nganga-Nkisi Katuvanjesi, juntamente com os Taata Njimbidi Kisaneji, Tiago Nascimento, de Katende; Kiadilunji, Everton Aparecido da Cruz, de Nsumbo; Kitala dia Ngunzu, Fabiano Magalhães de Jesus, juntamente a outros Kambandu do Nzo Tumbansi, iniciou com cânticos e louvações os atos litúrgicos do culto ao ancestral, cuja característica visível e sem dúvida o uso das máscaras rituais de tradição banto, que representa a perda da individualidade mundana do iniciado, para a manifestação da divindade.

Para o Taata kwa Nkisi Katuvanjesi o uso das máscaras “é um símbolo. É como se fosse à indumentária do nkisi, sua forma de assumir uma propriedade visível, ou seja, a mascará representa a característica visual do nkisi, além de ser uma afirmação da identidade do candomblé de raiz banto, especificamente no Nzo Tumbansi”.

Tal característica esta associada à preocupação do Sacerdote do Nzo Tumbansi, em resgatar e reafirmar as origens africanas de raiz banto do culto ao ancestral. Entre outras ações, salienta-se a revisão lingüística dos idiomas rituais Kikongo-Kimbundu que foram transplantadas da África Bantu e que são utilizados cotidianamente entre os adeptos do terreiro em suas dependências.

O “povo de santo”, como são chamados, estão habituados a territórios e a símbolos que evocam o calor. Em outras palavras, o candomblé é de natureza quente tanto territorialmente quanto simbolicamente no uso das cores e comportamentos, andar descalço, por exemplo, e mesmo no frio de 7°Celsius de Itapecerica da Serra, região Metropolitana Sul da grande São Paulo, tais características prevaleceram.

Na celebração de Nkosi houve também a saída do Mbakisi, lugar de poder onde são iniciados os adeptos e realizadas as obrigações de conteúdo mágico-religioso. Desse lugar saíram nove adeptos, dois muzenza (recém-iniciados, um de Mutakalambo e uma de Ndanda Nlunda); dois Kambandu, um de Katende, outro de Nkosi que tomaram obrigação (Taata que desempenham cargos); uma makota deNjanja-Kalunga que tomou obrigação (makota Ambelai, mulheres que não incorporam que são auxiliares do pai de santo no terreiro); quatro Maganza que também tomavam obrigação dentre elas, Mona Dia Ndembu que recebeu a Kutambula-Ntanda (vulgo Deca, direito de transmissão aos ensinamentos).

Para Mona Dia Ndembu (Adriana de Oliveira Souza) ter recebido a Kutambula “representa uma responsabilidade enorme, que envolve a continuidade de uma tradição antiquíssima e passar isso aos meus futuros filhos de santo aumenta ainda mais essa responsabilidade, que em minha vida pessoal vai me ajudar a ficar firme e centrada em meus objetivos espirituais e sociais”. Para Katuvanjesi a investidura da Kutambula Ntanda “é um gesto sagrado onde tanto o Taata Nkisi quanto a recém-mãe de santo ou pai de santo se tornam elos de uma corrente cultural dos povos africanos na diáspora. Transmitir a Kutambula Ntanda é cumprir a tradição”, sentenciou Katuvanjesi.

As pessoas presentes se privilegiaram em vista da manifestação dos Bankisi no Terreiro. Foram apresentados os muzenza, Jose Ricardo Dias de Souza, de Mutakalambo e a Norte Americana Christen Chriss Smith, de Ndanda Nlunda, professora doutora do departamento de antropologia da Universidade do Texas em Austin, Estados Unidos, iniciada no Nzo Tumbansi, que apresentaram suas respectivas djina, após foram apresentados os Kambandu Kirimulonji, de Katende (Wellington Pereira); Ngelwami, de Nkosi, o jornalista (Ênio Sales de Oliveira), de Palmas, capital do Tocantins, região norte do Brasil; a makota Tunda Zaya (Rosana Moreira) e asMaganza que cumpriam obrigação, Mona Kianza, de Kitembu (Polyne Silvestre); Kafunjeresi, de Kavungu (Damiana Cardoso de Souza) e Tandala, de Kuk’etu (Patrícia Vilega).

Em seguida, o nkisi Nkosi ao qual era feita a celebração manifestou-se extraordinariamente na pessoa do Taata Kwa Nkisi Mufumbi, (Alexandro de Nkosi) do Rio de Janeiro/RJ. Certamente todos no barracão sentiram e se beneficiaram do nguzu desse nkisi que dançou e deu mostras de seu poder. Foram mais de 200 pessoas que testemunharam a incrível apresentação de Nkosi.

Dentre as pessoas presentes estavam autoridades religiosas do candomblé, como Taata Mungangaiami (Michel Alexandre deNlemba), Curitiba-PR; Taata Cajuru Samukwenda (Binho de Kavungu), Itaquaquecetuba-Sp; Taata Lundira de Ferraz de Vasconcelos-SP; Néngwa Lekossi, da zona leste da Capital paulista; Taata muxiki ngoma Jitoboamin, de Kavungu (Luiz Carlos) que representava a linhagem da saudosa Manaunde; Néngwa Yakunan (Janaina de Samba Kalunga); Taata Oni, ambos de Belo Horizonte-BH, representantes da tradição Lunda Kióko: e Néngwa kwa Nkisi Awiza Lundyre, de Nova Iguaçu, baixada fluminense, Rio de Janeiro; o Taata Nzazi Ankembu, Carapicuíba, SP, Koota Kandumba, doutora Patrícia Capelletti, advogada criminalista e membro do departamento jurídico do Ilabantu/Nzo Tumbansi; Taata Kiamuiji, Paulo Marcelo de Nkosi, e filhos, do Nzo Kuna Nkosi, de Osasco; Taata Kialeji,José Raimundo de Nkosi e filhos; Koota Dandá, Elizabeth Lepori, de São Bernardo do Campo; doté Kajimazun, de São Lourenço da Serra/SP

Também estiveram presentes autoridades civis que fizeram questão de se comprometer socialmente com o Nzo Tumbansi. Dentre elas o representante da Câmara Municipal de Itapecerica da Serra- SP, o vereador professor Clóvis Pinto que afirmou que levará ao plenário da câmara o projeto para declarar o Nzo Tumbansi como utilidade pública municipal, o presidente do Conselho Municipal do Negro, Conegro, de Itapecerica da Serra, Denis Rodrigues; Renato Dias, presidente da Ong Kolombolo que se comprometeu na realização de um Cd com as cantigas feitas no Terreiro.

Ao final foi oferecida ao público a feijoada de Nkosi da qual todos se alimentaram física e espiritualmente, e puderam levar para suas vidas particulares um pouco das bênçãos e poder do nkisi Nkosi.