Curta-metragem “Cá Te Espero no Tumbenci – Saberes e Fazeres” será lançado dia 9 de novembro

*Liliane Braga Ndembwemi

A revalorização e a disseminação de informações sobre o Candomblé Congo-Angola no Brasil se iniciam pela memória de Nengwa Twenda dya Nzambi (Maria Genoveva do Bonfim ou Maria Neném, como era conhecida), que se tornou ancestral bantu-brasileira mais reverenciada por devotos e devotas do Candomblé Congo-Angola.

O Terreiro Tumbenci foi fundado em meados do século XIX por Maria Genoveva do Bomfim juntamente com Tata Kimbanda Kinunga (Roberto de Barros Reis, cujo sobrenome português é herdado por parte de escravocratas). Hoje situada no bairro do Beiru (Salvador, Bahia), o Tumbenci é casa-tronco de muitos dos terreiros de tradição Congo-Angola – entre elas, o Nzo Tumbansi Twa Nzambi Ngana Kavungu, situado em Itapecerica da Serra (São Paulo), que tem como dirigente tradicional Tata Nkisi Katuvanjesi.

Na segunda metade do século XX, após muitos anos fechados a espera de um(a) sucessor(a), o Terreiro Tumbenci é reaberto no ano de 1982, passando a ser conduzido e dirigido por Nengwa Nkisi Lembamuxi, de registro civil Geurena Passos Santos (na foto, com Tata Nkisi Katuvanjesi, sentado ao chão). Em trabalho conjunto entre Nengwa Lembamuxi e a professora Hildete Costa, surge o museu digital, que desvela o rico acervo do Terreiro Tumbenci para a sociedade, com o intuito de contribuir para a criação de políticas públicas do patrimônio afro-brasileiro.

O museu digital dá visibilidade aos saberes e fazeres do Terreiro Tumbenci, espaço de resistência da religião e da cultura de matriz africana herdada de Angola – possivelmente de Cabinda, região ao norte desse país africano. Com esse projeto, abriu-se a novos processos de aprendizados, ao serem elaboradas metodologias de registro a partir do olhar de quem pertence à comunidade afro religiosa sobre como ela mantém viva suas tradições, sua história, suas memórias e seu patrimônio.

Outro ponto importante desse projeto está em oferecer fundamentos para políticas públicas de valorização e salvaguarda de bens materiais e imateriais do Terreiro e para a criação de mecanismos que estimulem o turismo associado à valorização do seu patrimônio cultural, como estratégia de desenvolvimento local.

Por meio do museu digital do Tumbenci, são oferecidos referenciais históricos, documentais e simbólicos que justificam a importância de identificar esse Terreiro como patrimônio cultural da Bahia, a partir de uma metodologia participante e etnográfica, com elementos de pesquisa sócio-histórica. Daí o museu digital disseminar acervos textuais, iconográficos e audiovisuais, compartilhando saberes com pesquisadores(as), estudiosos(as), estudantes e comunidade.

Em continuidade ao trabalho de disseminação da história desse importante Terreiro, vai ser lançado, no dia 9 de novembro de 2020, às 19h00, o documentário curta-metragem “Cá Te Espero no Tumbenci – Saberes e Fazeres”. Idealizado pela professora doutora Hildete Costa, o documentário apresenta o Tumbenci e sua relação com o território no outrora Quilombo Cabula.

O local de lançamento será o espaço físico do próprio terreiro, no bairro do Beirú (Salvador, Bahia). Devido a limitações por conta da pandemia do coronavírus, o evento será restrito a um número reduzido de convidados(as), mas contará com transmissão ao vivo pela TV Tumbansi

O projeto do documentário contou com equipe de profissionais e pessoas dedicadas, tendo sido viabilizado por meio do edital setorial de audiovisual 2019, com financiamento a partir de órgãos como Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.

• Liliane Braga Ndembwemi, maganza do Nzo Tumbansi, jornalista, membro da coordenação de comunicação social do Ilabantu, doutora em história pela PUC-SP

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