Em Angola, segundo Redinha, os curandeiros eram chamados de KIMBANDA ou OVIBANDA. Botânicos, raizeiros aliando-se a isso a arte da adivinhação. Na concepção dos povos Bantu a doença e a morte não eram um fenômeno natural.
Atribuía-se às enfermidades e a morte ação maléfica de espíritos e feitiços. Assim, não bastava a aplicação de porções medicamentosas e ungüentos. Fazia-se necessário danças, cânticos, batuques, amuletos, etc. que davam forças a estes remédios. O KIMBANDA era, pois, o detentor da ciência UMBANDA (ou seja, da cura), mas também de um poder sobrenatural. Os males nunca eram apenas físicos, portanto o diagnóstico era feito por métodos adivinhatórios e o KIMBANDA, a quem se atribuía os poderes miraculosos e mágicos, era a autoridade competente. No Brasil a palavra UMBANDA tomou-se o nome de uma seita e KIMBANDA uma vertente desta, que se dedica a fazer o mal. Na África Bantu UMDANDA é a arte de curar e KIMBANDA o detentor destes conhecimentos. Temos que falar também da existência do MULOJI, feiticeiros que se dedicavam a fazer o mal. Estas pessoas eram temidas e viviam em casas afastadas das aldeias. Recomendava-se às crianças que não passassem pela porta dos MULOJI. Por outro lado pode-se constatar viva ainda na Bahia de hoje, esta herança cultural dos povos Bantu, de não se aceitar a morte e a doença como fenômeno natural. Narrarei dois exemplos no âmbito restrito de minha família de Santo. A morte, principalmente de chefes de terreiros, geralmente se atribui a feitiços, demandas ou punição dos Makisi e desobediências.Sobre as causas de morte de Joãozinho da Goméia, correu a boca pequena duas versões: desobediência á ordem de Pedra Preta de não abandonar a Gomeia de Salvador e fazer sua festa sempre lá. Não abandonar o Angola e ele teria ido para o Gantois receber obrigações. Na volta num acidente com o carro levou uma pancada na cabeça daí surgindo um tumor que levou a morte. Para a morte do sucessor de Bandanguame no Bate Folha, o finado Pedro duas versões surgiram em tom confidencial. O que aconteceu de fato foi: ao ouvir um barulho durante a madrugada do lado de fora, abriu a porta para ver o que era, levou uma pancada na cabeça que lhe causou a morte. A primeira versão para justificar o ocorrido foi que ele teria se recusado a dar comida a Hongolo(Angorô) e por isso morreu como as cobras morrem, uma paulada na cabeça. A segunda versão teria desobedecido a instruções do fundador Bernardino de que nunca chamassem pessoas de outro terreiro para fazer obrigações em pessoas da casa. O finado Pedro chamou mãe Tansa da Corcunda de Iaiá (casa Jêje) para fazer suas obrigações. Daí resultando como castigo a sua morte. Acredito que muitos tenham casos para contar parecidos com estes. As Tradições Religiosas da África Bantu assentava-se principalmente na arte da cura e seus mistérios. Acreditava-se não apenas nas propriedades medicinais das plantas, raízes e cascas, mas principalmente no poder sobrenatural e mágico do KIMBANDA. No livro Etnias e Cultura de Angola José Redinha, se reporta a alguns casos, e escolhemos um que ele narra e por ele presenciado na região de XA-CASSAU onde uma mulher aparentando 55 a 60 anos amamentava um recém-nascido cuja mãe havia falecido. Perguntada que folha ou raiz teria usado para ter leite, respondeu: – “a força do Kimbanda é que me ajudou”. Os nativos pareciam não atribuir às plantas o efeito, mas aos métodos mágicos do KIMBANDA. Muitas são as descrições que faz das praticas medicas usadas, ungüentos, beberagens, ventosas, clisteres e até cirurgias; nunca afastando, mas sim aliando os ritos mágicos. “No âmbito empírico, registra-se lampejos duma pré-ciência. Indivíduos com feridas irem aos tambores de lixo duma pastelaria colher bolor criado sobre bolos em decomposição aplicando-os sobre as lesões com o fim de obterem a cura, isto muito antes da descoberta da penicilina”. (REDINHA, José. Etnias e Cultura de Angola). Até os dias de hoje os terreiros na Bahia são procurados para tratar doenças, principalmente no interior. Eu conheço muito bem tal prática poisfui criado no interior baiano, precisamente na cidade de Ipiaú, baixo sul do Estado da Bahia e de formação católica até completar os meus 11 anos de idade, e ter chagado ao candomblé pela doença não curada pela medicina convencional e do estado de possessão e foi difícil aceitar esta função de cura. Tenho como princípio, só agir depois do médico. Só aceito tratar de uma pessoa, quando os médicos não conseguem diagnosticar ou por estar desenganada. |