Conversa de Terreiro: importantes nomes do mundo da educação no Brasil confirmam presença no Ilabantu/Nzo Tumbansi

Conversa de Terreiro: importantes nomes do mundo da educação no Brasil confirmam presença no Ilabantu/Nzo Tumbansi

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O ILABANTU/Nzo Tumbansi fará realizar no dia 8 de março, a partir das 10h00, mais uma edição da “Conversa de Terreiro”, com a proposta de incentivar o cumprimento da Lei 10.639/03, que determina a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino fundamental e médio, nas escolas públicas e privadas.

Trata-se de uma iniciativa para debater os problemas para sua implementação, especialmente os relacionados à falta de formação dos professores para trabalharem estes temas. A dificuldade também está no campo dos educadores não reconhecerem a importância da história e da cultura africana para a compreensão da história do Brasil. “Apesar dos seus limites, a aplicação da lei nos ajudará a cumprir grandes objetivos como levar a reflexão sobre a discriminação racial, mudar a mentalidade preconceituosa e superar as desigualdades raciais, disse o Taata Kwa Nkisi Katuvanjesi – Walmir Damasceno”.

O tema central do evento – CONVERSA DE TERREIRO: RESSIGNIFICANDO A HISTÓRIA E A CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NA ESCOLA – tem presença confirmada importantes nomes do mundo acadêmico e educacional, como Professor Deivison Nkosi, Graduado em Ciências Sociais pelo Centro Universitário Santo André (2005), Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC (2010) e Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCAR (PPGS-UFSCAR).

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Tem experiência nas Áreas: Relações Raciais e Racismo com ênfase em Educação Para as Relações Étnico-Raciais e Saúde da População Negra. Já atuou em projetos de Prevenção às DST/AIDS, Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos, Combate ao Racismo Institucional, Africanidades e Movimento Hip-Hop; Professor Doutor Otair Fernandes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ/Campus Nova Iguaçu, Prof. Adjunto do Departamento Educação e Sociedade (DES), Coordenador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Leafro/UFRRJ), Grupo de Pesquisa Educação e Relações Étnico-Raciais (GPESURER), Pet/Conexões de Saberes: dialogando e interagindo com as múltiplas realidades e saberes da Baixada Fluminense/RJ; Professora-Mestra Rosiane Rodrigues, jornalista, com especialização em História do Holocausto pelo Museu Yad Vashen (Jerusalém, Israel), pós-graduada em Educação para as Relações Étnico-Raciais e Mestra em Antropologia pela UFF/RJ; Professor Jonathan Marcelino, Graduado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (2010), mestre em Geografia Humana/Política pelo Programa de Pós Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo USP (2013), Ex- pesquisador/associado ao programa CNPQ (2010-2013).

Atualmente é professor do departamento de Geografia e História da Universidade Anhanguera Educacional (SP), e professor de Geografia efetivo da Rede Municipal de Educação de São Paulo lotado nas unidades educacionais EMEF Jornalista Millôr Fernandes e EMEF Zulmira Cavalheiro Faustino. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Social e Geografia dos Movimentos Sociais atuando principalmente nos seguintes temas: Ativismos Urbanos, Mobilização política, organização das cidades, e ordenamento do espaço urbano.

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Também tem interesses em estudos com abordagem em questões étnico-raciais, Geografia e Ensino com foco na articulação das Leis 10639/03 e 11645/08, Geopolítica do Continente Africano, território e territorialidade negra, e Diáspora Africana; Patrícia Ferreira e Silva, mestre em Antropologia Social (USP), pesquisadora do CERNe (USP); Rachel Rua Baptista Bakke, Doutora em Antropologia pela USP, com o trabalho “Na escola com os Orixás: o ensino das religiões afro brasileiras na aplicação da lei 10.639”; Edson Kakolo, Engenheiro (Universidade Jean Piaget, Benguela, Angola), Membro da Sociedade Tradicional Chaya Kokue, Saurimo, Lunda-Sul/Angola; Professora Doutora Lucilene Reginaldo, Departamento de História – IFCH/Unicamp/SP; Professor Doutor Sergio Adolfo, Universidade Estadual de Londrina/PR, entre outros.

A História do Brasil tem suas raízes do outro lado do Atlântico, pois de lá vieram os negros africanos para aqui se tornarem mão-de-obra escrava, e trouxeram consigo suas tradições, seus costumes, suas cores. Com isso contribuíram imensamente para a formação cultural e social do povo brasileiro.

Por isso salientamos a necessidade urgente de se conhecer a história deste povo que foi e ainda é muito importante para o nosso país. Segundo Alberto da Costa e Silva, “a história da África é importantes para nós, brasileiros, porque ajuda a explicar-nos. Mas é importante também por seu valor próprio e porque nos faz melhor compreender o grande continente que fica em nossa fronteira leste e de onde proveio quase a metade de nossos antepassados”.

A promulgação da lei federal, precedida por leis municipais em Belém, Aracajú e São Paulo, é resultado de um longo processo de ações realizadas pelo Movimento Negro: desde os primeiros quilombos até os mais recentes movimentos que lutam pela posse da terra pelos seus descendentes, os negros não pararam de lutar e resistir contra a escravidão. Com a abolição, uma nova realidade surge para os negros, sem trabalho, sem moradia, enfim, numa situação tão deprimente, que passam a se organizar de forma mais efetiva para garantir a unidade do grupo e também para galgarem melhores condições de vida.

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A organização da imprensa negra no início do século passado (Menelik, Alfinete e Clarim da Alvorada); a criação da Frente Negra Brasileira, desativada com o Estado Novo; Abdias Nascimento, inicialmente com o Teatro Experimental do Negro (TEN), e depois com a Associação Cultural do Negro (ACN), que reuniu nomes como Solano Trindade e Fernando Góis; e outras tantas organizações e movimentos até, mais recentemente, a criação de Centros de Estudos Africanos (Bahia, São Paulo etc..) e as mudanças no arcabouço legal nacional são reflexos e resultados dessa luta.

Candomblé e Educação

A professora em história pela Universidade Federal do Tocantins, Kamila Borges, de Uambulu N’sema, filha-de-santo do Nzo Tumbansi, em seu trabalho acadêmico ¨Candomblé Bantu e a importância dos afro-saberes na educação”, observa: “Os espaços de Candomblés servem para a preservação da tradição cultural e religiosa africana, dentro de uma dinâmica social caracterizada pela secularização e avanços industriais, no qual o processo de produção e reprodução social são pautados pelo neoliberalismo e sua perspectiva de formação de novos mercados que para se expandirem necessitam globalizar cada vez mais as diferenças culturais. Nesta conjuntura, os ritos da tradição africana configuram-se como elementos de resistência identitária aos seus integrantes que em maioria são pertencentes a uma população que cotidianamente tem sua autoestima esmagada.

Foi através da religiosidade dessas diversas formas de celebrar o divino que a religião trouxe o que há de mais importante para os africanos submetidos à diáspora. É a celebração do divino que traz a imagem do território perdido. Tendo o terreiro uma função importantíssima de recuperar esse território mesmo que de maneira simbólica: através de amuletos, do círculo mágico e outros objetos litúrgicos que carregam referências de seu lugar de origem.

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O terreiro é o lugar onde se celebra a vida, espaço da memória. Em África o culto ao Nkisi, estava ligado à cidade ou região. No Brasil a diáspora impôs uma recriação do culto: aqui ocorre o culto de várias divindades no mesmo templo. Existem várias crianças, vários jovens, adultos e idosos adeptos do Candomblé.

Esses adeptos hoje no Brasil sofrem graves rejeições e discriminações. Na realidade, nas escolas existem vários casos onde estudantes precisam esconder suas visões de mundo, suas religiões para conseguirem se inserir na visão dominante. É necessário transformar essas relações, implementar políticas públicas , transformar essas práticas racistas.

Sabemos que em muitas escolas, nas aulas de ensino religioso são estudadas somente a bíblia, ou cartilhas de padres e pastores. Muitas vezes são realizadas orações diárias e as crianças mesmo adeptas de outras religiões são induzidas a participarem e não encontram em nenhum momento da vivência escolar assuntos pertinentes aos referenciais simbólicos de sua religião. Por isso elas se sentem muitas vezes na obrigação de esconder e mentir sobre suas convicções.

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Percebemos também que a memória coletiva, da história e cultura das identidades dos alunos negros estão apagadas do sistema educativo formal. O problema está nas escolhas ideológicas feitas pelas instituições educacionais que, segundo Botelho, torna-se muito importante: “A denúncia dos modelos hegemônicos educacionais, que elegem a vertente judaico-cristã como única detentora de saberes e verdades sócio-religiosas” (BOTELHO 2005). Os saberes e conhecimentos de tradição africana devem ser ampliados e fazê-los migrar do lugar de folclore, do fetichismo, para o lugar de conhecimento entre as demais disciplinas do sistema educacional de ensino. A meta e luta é rumo à valorização das questões da negritude, para a construção de uma prática antirracista nas escolas.

Crescer em um terreiro de candomblé é aprender a conviver com as múltiplas diferenças e partilhar, com isso, uma nova perspectiva de educação antirracista e plural. Há muito a escola perde essa experiência porque é longa sua prática de silenciar culturas não hegemônicas (CAPUTO, 2006).

O Candomblé através da sua riqueza de símbolos enriquece o imaginário, oferece um universo poético, enquanto as instituições de ensino muitas vezes através da burocracia e prática desumanizadora escondem a desigualdade sócio-histórico-racial.

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Outro fator relevante é que no Brasil a língua que falamos é imensamente caracterizada pelas línguas africanas principalmente Kikongo e Kimbundu que são línguas Bantu. A assessora técnica em Línguas Africanas do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, professora doutora baiana Yeda Pessoa de Castro, afirma que dos cerca de quatro milhões de indivíduos transplantados da África subsaariana para o Brasil, 75 por cento foram trazidos do mundo bantu – falante, de territórios situados atualmente em Angola e nos dois Congos.

Conhecer o Brasil é aprender a história de cada matriz cultural para compreender a contribuição de cada cultura na história do país. A historiografia oficial ao longo dos anos, na maioria dos livros didáticos que conhecemos, apresenta assuntos sobre história da África numa ótica estereotipada”.

ILABANTU/Nzo Tumbansi é na Rodovia Armando Salles, 5205, Recreio Campestre, em Itapecerica da Serra, cidade da Região Metropolitana de São Paulo.

 

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