Em parceria com fiscais da Prefeitura da cidade de São Paulo, Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana, o Prefeito Regional de Pinheiros resolveu montar uma “grande operação” em prol do interesse público dos munícipes, a qual batizou de “Blitz da Amarração”. O objetivo seria remover anúncios irregulares que “emporcalham a cidade”, apreender o material e punir os responsáveis. Ocorre que, o tipo de material apreendido e divulgado em vídeo[1] nas redes sociais refere-se apenas a anúncios supostamente relacionados com religiões afro-brasileiras. Ora, há inúmeros outros tipos de anúncios colocados de maneira irregular, por que então uma predileção no “combate à amarração”? Sabemos que o racismo brasileiro possui um amplo repertório de atuação, especializando-se em hierarquizar – consciente ou inconscientemente – atribuindo estereótipos negativos aos referenciais culturais, sociais e espirituais pertencentes à população negra. Porém, quando denunciamos a injustiça racial pela perpetuação de desigualdades, ela é justificada como chiste ou mal-entendido. É notório o fato de que diante dos processos formais de desenvolvimento urbano, aliados à perspectiva consumista da modernidade capitalista, milhares de mentes recebem, diariamente, informações distorcidas através dos bombardeamentos midiáticos, o que corrobora para infundir o racismo, a intolerância religiosa, o preconceito e a discriminação. Em todas as religiões há falsas profissões, falsos líderes, sacerdotes corruptos e abusadores. O que não toleraremos é esse tipo de comunicação de representante de órgão público que programa uma ação dirigida, exclusivamente, a anúncios referentes a religiões de matrizes africanas, reforçando estereótipos e preconceitos inerentes ao racismo institucional, impregnado em nossas instituições. O modo de ser de uma metrópole, cujos valores são o consumismo, a velocidade, o interesse privado sobreposto ao interesse público, o desemprego que desponta, a necessidade de sobrevivência, a destruição das faunas e floras, a poluição dos recursos hídricos e o desrespeito à biodiversidade tornam os espaços urbanos, cada vez mais, espaços hostis ao desenvolvimento dos Povos e Comunidades de terreiro. Sobretudo nas dimensões paulistas, que, dentro dessas dinâmicas dessacralizadoras, acabam por produzir modificações no interior de seus códigos e tradições, fato combatido e não compactuado pela própria comunidade de terreiro. Sugerimos ao Prefeito da cidade de São Paulo e seus Prefeitos regionais a se adequarem às dinâmicas da cidade conclamando as comunidades de terreiro para estabelecer políticas públicas que auxiliem na manutenção de suas tradições e assegurem os direitos constitucionalmente garantidos de liberdade de culto e crença e de proteção aos locais de suas liturgias. (CF, artigo 5º, inciso VI). Vale dizer ainda, que a apresentação destas demandas ocorre de forma transversal, na medida em que, as reivindicações não são somente por garantia e viabilidade institucional das culturas tradicionais de origem africana, mas ao direito à saúde, alimentação, moradia, segurança, educação e melhores condições de vida a toda população afro-brasileira e africana na diáspora. Nesta perspectiva o ILABANTU se configura como uma organização coletiva voltada ao amadurecimento das pautas reivindicatórias dos Povos de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana frente aos diálogos com o poder público. |